08 setembro, 2009

Lavagem de dinheiro (Parte 1)


20/10: observava já há algum tempo aquela imagem refletida no espelho, com certo espanto, como o tempo poderia ter passado tão rápido? Aquele seria mesmo o seu reflexo? Não, não! Aquilo só poderia ser ilusão, ou o espelho estava lhe pregando uma bela de uma peça?
Estava sozinho na sua mansão de proporções gigantescas, feita de vidro, tão frágil como a sua vida. Não restou ninguém mais ali para lhe proteger. Apenas uma simples pedra transformaria tudo em milhões de pequeninos cacos de vidro. Foi dormir era a solução mais simples capaz de proporcioná-lo o encontro de uma vida paralela de sonhos, que não o pertencia, afinal desperdiçou os seus anos com sua arrogância, que gerava tantas futilidades. Tinha jogado o seu caráter, junto com seus princípios e seu coração na lata do lixo aos 17 anos, quando entrou numa gangue.
Não poderia usar como desculpa que seus pais eram miseráveis, ou culpar a insolente fome que corroe a alma de tantos, que as oportunidades nunca haviam surgido, pois apesar de sua família nunca ter sido rica, tinham lutado para te dar o melhor, mas ele sempre desejou mais, sua ambição o fez entrar na marginalidade tão cedo.
Tinha dito um filho, Philipe, com uma bela mau caráter, golpista, de embalagem simétrica encantadora, esse teria sido seqüestrado aos 6 anos, por um dos seus inimigos de gangues rivais. A sua capacidade de amar qualquer ser teria sido levado junto com sumiço do pequeno menino.
Acordou com uma idéia que já o atormentava a cabeça há algumas luas cheias. Passou pela sala onde uma bela televisão de plasma última geração filmava os seus passos para serem transmitidos no horário nobre para o entretenimento de empregadas entre lavar a roupa e a louça. Nas paredes, belos quadros de artistas famosos e pedaços de culturas de várias partes do mundo, porém de que tudo aquilo valia? Objetos não têm pensamentos próprios, não são a companhia humana e real que ele queria. Teriam sido comprados com o dinheiro mais miserável de todos, aquele dinheiro que além de ter derrubado árvores, matou pessoas, seres humanos, que esses sim tinham sentimentos, não são objetos, como o seu belo lustre que iluminava a sua mansão nas noites escuras.
Foi até o escritório, pegou um papel e uma caneta, escreveu então o seu testamento. Saiu de casa com pressa, não agüentava mais, precisava acabar com isto logo, precisava executar essa idéia que o atormentava, não tinha mesmo ninguém para lhe impedir.


(...)

Um comentário:

Camila de Azevedo S. Coelho disse...

Caramba, ficou muito bom! Não sei de onde você tira tanta criatividade amiga.