25 dezembro, 2009

Dia 25


Começarei sem desejar um feliz natal, como o esperado. Parece uma manifestação de um falso desejo de que o seu dia seja bom. Abomino o fato de todos ficarem tão bonzinhos no Natal, o seu bom velhinho, coitado de ti, deve estar assustado com a decoração natalina da minha cidade, que parece mais uma alegoria da Sapucaí. Para os que desejo um feliz dia, não é apenas hoje. Sem cartas queimadas na chaminé, e sem pedidos esta noite, já recebi mais do que esperava durante esse ano. Agradeço pelos seus olhos atentos, e principalmente pelos duendes disfarçados que me agüentam cada vez mais numa convivência aflorada. Na foto em anexo dessa carta esta minha prima Cecília, troco todos meus desejos pela realização de meia dúzia dos dela. Espero que não tenha que suporta o sol de 7 da manhã a beira mar, sem a compensação de um sorriso alheio. Sem leite, sem chocolates, sem meias nos trincos das portas, sem trincos, nem trancas que empeçam sua entrada, sem cartas espero o próximo dia 25 de dezembro.

23 dezembro, 2009

Sem flor

Sou pausas, não continuação.
Um intervalo,
Preenchimento do vazio momentâneo.
Um beijo, uma noite,
50 dias sem valor, sem calor, sem rancor.
Espinhos cheios, sem flor,
O exalar do perfume inexistente das ausências.
A procura do transbordar,
Do encontrar de alguém para se identificar.
E te pergunto:
Cadê você?
Se você em questão me encontrar,
Não hesite. Sem mensagens subliminares,
Avisos claros.
Peço-te gritos e ranger de dentes para esses meus olhos cegos,
Puxões para meus cabelos,
Intensidade para meus dias,
Desordem para minha rotina e horários.
Em troca não te matarei de tédio,
E te farei textos menos clichês
Porque em você encontrarei inspiração sem razão.

15 dezembro, 2009

50 gotas de morbidez


Morta afundada no copo de vodka,
Luz incandescia seus olhos estrábicos, bar.
Ausências amigas te preenchiam, lar.
Fênix incontrolável seu amor se tornou.
Enforcar, queimar, trucidar, era seu desejo.
Suicídio seria a fuga imperfeita,
Matá-lo dentro de si, afirmativa recorrente habitual.
Inventar fobias, manias.
Esvaziar o seu tempo vagaroso,
Consumir, derramar sua coleção de quinquilharias.
Carrossel extasiado,
Livro de auto-ajuda para quem não deseja se ajudar.
Potencializada sentia suas dores, remorsos,
E a esperança de que um dia o fim ei de chegar.

09 dezembro, 2009

Carta do meu amor (Parte 2)

(...)

Por mais que diga e reafirme que esse será minhas últimas palavras unidas num papel para você, sei que minto. Me pediste para responder tuas confissões, com outras. Confissão número um: sempre vai existir um pedaço de ti em mim, você faz parte da minha historia, da invenção das minhas fobias, do meu vicio de ter vícios, mas me acalmo em dizer que não era como antes, vivo agora mais tranqüila do que atormentada por suas lembranças. Arranjei outros motivos para me atormentar, outras pessoas para te perder e me encontrar. Minha vida sempre foi baseada em relações fora do convencional, pitorescas talvez, se te contasse tudo que vivi nesses meses, de tudo que me libertei, tudo que senti numa intensidade que alguns julgariam deplorável, iria rir da minha imprudência jovial. Me vi próxima de pessoas que só agora fui verdadeiramente conhecer. Conheci um cara, para dizer a verdade uma dezena deles passou pela minha vida sem me deixar marcas, mas só três me desorganizaram e me fizeram desejar sua permanência após os dias. Interpretei dentro do palco e fora dele, cortei o cabelo, mudei os meus óculos, sofri com a biologia que não entra na minha cabeça, sai da fisioterapia, me adaptei a ter perdido alguém que na verdade nunca foi meu. Vivi assim, quase sem me querer, até que o encontrei, não foi programado, planejado ou esperado. Espero na verdade outro amor que balance minhas veias, mas ainda não é dele que estou a lhe relatar. O ele em questão se tornou meu melhor amigo, meu irmão, minha relação incestuosa, o limite inexistente entre a relação pessoal e profissional. Meu amor por ti nesses últimos meses diminuiu diante dos meus olhos, e da raiz dos meus cabelos. E está aqui seu pedido de reciprocidade atendido, se fosse realmente tão corajosa e impetuosa pararia de te escrever para você não ler. Não se espante meu querido se um dia encontrar sua caixa de correio abarrotada com meu antigo amor.

04 dezembro, 2009

Carta do meu amor (Parte 1)


Olhava fixamente para a janela do décimo terceiro andar, impressionante como mesmo tendo fugido tanto daquela cidade, daquele bairro, daquele apartamento, daquele travesseiro com sabor do teu perfume parisiense, conseguia me sentir tão frágil. Uma boneca de fácil manejo que caia num poço sem fim a qualquer atitude tua, era isso que havia me tornado, ou melhor, sempre fui essa boneca entrelaçada nesses fios de nilon invisíveis. No fundo ainda existia uma doce esperança de te encontrar, junto com o medo do que isso poderia despertar. Precisava de álcool, mas o elevador elevava as minhas dores e ressentimentos aos olhares atentos dos seus amigos, os quais me filmavam a cada suspiro. Lembro de ter pensado em deixar de respirar, ou deixar de existir um milésimo de segundo depois. Sem deixar ninguém perceber, te procurei em todos os resquícios. Tudo ali parecia nos refletir, o cheiro da cor do teu carro, tuas roupas na desorganização perfeita costumeira, os seus livros jogados. Se não me engano foi nesse momento que sua mãe comentou sobre minha beleza, ou o seu pai sobre o meu vestido preto, só lembro-me do complemento, nenhuma novidade para mim, você não estava ali, tinha viajado por motivo de força maior, trabalho, tentaram demonstrar o quanto sentia pela ausência naquele momento. Queria que sentisse pela ausência em mim, não naquele momento. Transtornos me impulsionaram há fazer uma ligação, o discar dos números foi interrompido ao receber a tua letra ilegível num papel amarelado junto de uma garrafa convidativa de vinho. Não me importava de onde vinha, nem quem a trazia, apenas o “para minha atriz boemia” no envelope. Lia-te tão rápido, depois vagarosamente, com medo do acabar das folhas do nosso amor, lia-te como uma despedida, como um adeus, um fechamento do ciclo que sempre busquei. A reciprocidade do meu amor dolorido escrito em verso e prosa. Havia mais algo naquela sacola. Fotos, fotos e mais fotos. Meu rosto estampado durante tua vida, fotos espontâneas, minha cara enjoada de sono, minhas espinhas, olheiras, tua roupa no meu corpo. Felicidade me consumiu, não seria eu um ser compulsivo sozinho, havia a sua arte registrada também, era apenas voltada para outro ponto de vista. As circunstâncias haviam me tomado de você, nossas fraquezas, temores, ressentimentos, inseguranças apenas somavam para tudo estar como está. Ela era exatamente o contrário, era a segurança, a disponibilidade a todo segundo, um sim sem um não, uma certeza sem dúvidas, todos os defeitos escondidos atrás de uma falsa perfeição.


(...)