09 setembro, 2009

Lavagem de dinheiro (Parte 2)

21/10: a reportagem que ocupava grande parte dos jornais de toda cidade chocava todos os cidadãos, com uma pergunta que intrigava a maioria: ‘qual teria sido a razão daquele bilionário que tinha tanto dinheiro ter se suicidado daquela forma?’ Havia sido encontrado morto na madrugada do dia 20 para o dia 21 num apartamento localizado num típico bairro pobre, a qual o pertencia o prédio inteiro que sempre alugou a altos custos pagos por pobres miseráveis sem opções de algo digno de ser chamado de lar, apenas moradia. Teria ingerido uma caixa inteira de remédios, que para sua infelicidade não teriam feito efeito rápido como esperava, destinado a seguir com a sua decisão pegou uma faca escondida na última gaveta amarela ovo e enfiou no órgão que ousava pulsar involuntariamente há anos, mesmo com os seus apelos e suplícios de acabar com a sua morte rotineira.
Philipe acordou às 5 horas naquele dia. Como de costume, pegou um metrô e dois ônibus até a sua longa e exaustiva carga de trabalho, onde carregava peso, concertava máquinas, fazia de tudo um pouco naquela fábrica. Estava tudo muito normal naquela quinta-feira, até aquele momento, em que o seu companheiro de trabalho e grande amigo chegou para lhe mostrar o jornal do dia, estranhando a sua semelhança com o bilionário que havia falecido na madrugada.
No mesmo instante passou na cabeça de Philipe como fosse um filme antigo, imagens um pouco embaçadas, que estavam adormecidas há tempos no seu subconsciente e resolveram lembrá-lo da sua existência exatamente naquele segundo : só podia ser o seu pai. Estava com algumas rugas a mais na foto, mas ele não podia estar enganado: só poderia ser ele. Leu detalhadamente a matéria, e agora sim tinha certeza era o seu pai, decidiu na mesma hora que tinha que ir ao enterro.
Tinha poucas lembranças do seu pai, mas pai é pai. Depois de ter levado uma pancada na cabeça há anos atrás, acordou apenas com o seu nome num pedaço de papel e um possível pedido de resgate, que nem foi feito, pois os seqüestrados tinham morrido num tiroteio horas após a sua chegada no cativeiro, teve então que se virar sozinho com lembranças vagas do passado que nunca sabia quando ultrapassava a tênue linha da doce imaginação infantil. Lembrava de algumas cenas de um senhor amável e delicado. Já tinha ido à procura da sua mãe, a qual lembrava claramente, e descoberto que a sua busca era sem razão, desiludindo desde daquele dia sobre sua família. Ela já estava de mudança, a procura de outro milionário para depenar. Seu pai não podia ter sido pior que sua mãe, não tinha como ser pior do que aquela mulher desprezível.
Foi ao enterro, e olhando ali o rosto do seu pai, ficou criando 1000 hipóteses do que teria acontecido para levá-lo a chegar ao fim, mas nenhuma chegava perto da verdadeira. Acompanhou a história toda de longe, apenas como espectador de parte da sua vida, apesar de ter aparecido tantos filhos postiços, tantas amantes que nunca teriam existido, o seu testamento era claro, e não deixava brechas: ‘o meu dinheiro vai finalmente ser usado para ajudar alguém, o próprio dinheiro que causou tantas lágrimas, agora vai causar sorrisos, que essa contradição seja feita, mesmo que agora não possa ver a vida de outros tantos mudarem com esse dinheiro, mas sei, sei que finalmente fiz algo certo, algo para tentar recompensar os outros por tantos atos egoístas da minha vida’.

2 comentários:

Bárbara Rodrigues disse...

dinheiro não tá com nada, vamos todos virar franciscanos ou entrar pro clube da briga.

Camila de Azevedo S. Coelho disse...

Encaremos os fatos, a autodestruição é do que precisamos...