21 dezembro, 2008

Conteúdo perturbador

Sempre abominei o ritual de encaixotar todas minhas lembranças, não que eu não goste de me mudar, até gosto e não quero passar a minha vida inteira numa mesma cidade. Considero depressivo e irremediável como todas as pessoas que passaram em tanto anos conseguem caber em miseras caixas de papelão com um ridículo aviso: CUIDADO, FRÁGIL! Há uma chance, uma grande probabilidade de esquecer alguém pelo caminho, de esquecer o meu querido elefante de pelúcia roxo que alguém um dia me deu. Não há duvidas que vou esquecer um pouco de mim aqui também. Jogo velharias fora, um CD de Darvin que ganhei já deve fazer uns dois anos. Rasgo alguns papéis inúteis, que nem sabia que ainda guardava, atividades escolares que nunca me foram tão essenciais, um pôster do Sandy e Junior, não tinha jogado isso fora antes? LIXO!
Mais abominável que o monstro das neves e que as fúteis revistas clichês adolescentes que acabei de reencontrar, é o conteúdo das caixas, contém a minha vida, que não queiro deixar para trás, que não quero apagar, que não quero esquecer.
Perturbador, as caixas se multiplicam com os dias e os dias não passam a se multiplicar com as caixas. Nem comecei a arrumar minhas roupas, nem comecei a me arrumar, nem tirei meus brincos que nunca uso do porta jóias, nem mudei meu jeito de falar, ainda será eu aqui quando a última caixa acabar de ser lacrada.

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